sábado, 4 de junho de 2011

As pessoas e as Organizações


Medico cuida, Administrador gerencia!
Este artigo de opinião tem o objetivo de analisar o papel do Administrador em uma unidade hospitalar e o seu funcionamento na prática, contendo informações sobre o comportamento do funcionário público e como o seu cargo é meramente desviado para outras formações acadêmicas.

Diversas pessoas questionam a importância de haver um administrador nas unidades hospitalares. Todavia, fica claro que as mesmas desconhecem a complexidade de um sistema hospitalar, como uma organização que possui uma ampla infraestrutura em instalações, equipamentos, instrumentais médico, funcionários, recursos financeiros e principalmente os clientes externos aos quais procuram manutenção, tratamento ou consulta.
Para gerenciar adequadamente esses recursos, teria que dispor de uma equipe multidisciplinar com elevado grau de autonomia e qualificação para administrar, capaz de entender de recursos humanos, financeiros, tecnológicos e referentes aos processos necessários. O fato é que nem sempre funciona dessa forma, porque pessoas, que não possuem formação acadêmica capacitada para tal função, estão ocupando cargo de administrador, no caso, de Gestor Hospitalar.
A Organização Hospitalar é seriamente complexa, não apenas pela nobreza e amplitude da sua missão, mas, sobretudo, por ter que apresentar uma boa assistência à saúde em caráter preventivo, curativo e reabilitador que é o caso dos pacientes em regime de internação.
Os gestores de todos os níveis hierárquicos da Rede Pública de Saúde devem  buscar alcançar objetivos de  maneira  eficiente e eficaz,  atendendo  as expectativas de todos os envolvidos dentro e fora da organização. Daí a importância de colocar em prática alguns princípios básicos das principais teorias da administração que é: planejar, organizar, direcionar e controlar todos os recursos necessários, desde financeiros, material como também reconhecer a importância de investir no capital humano da organização.
Então, como explicar em algumas unidades médicos administrando hospitais? É papel dos médicos cuidarem dos pacientes e do administrador gerenciar. Os cargos de Administrador estão sendo ocupados por médicos - que se especializaram apenas na área de saúde -, economistas - que se especializaram em finanças -, entre outros que não tiveram uma formação acadêmica precisa e focada em pessoas e processos. As várias funções do administrador, consideradas como um todo, forma o processo administrativo. Portanto, o seu papel é de executar a sua competência profissional no entendimento e associação dos recursos financeiros, material, instrumental, estrutural, como também reconhecer a importância de investir no capital humano dentro da unidade.
As idéias e valores sociais, comumente associadas ao servidor público, relacionam estes indivíduos à falta de qualidade dos serviços públicos e, como consequência deste fator condicionante, vem o excesso da burocracia que não contribui para mudar este quadro. Como os gestores vão entender o comportamento humano? Segundo Robbins (2005, p.326) “conflito é um processo que tem início quando uma das partes percebe que a outra parte afeta ou pode afetar negativamente alguma coisa que a primeira considera importante”. Uma das formas para a dissolução do conflito é a negociação, que para esse autor (p335) “... é o processo pelo qual duas ou mais partes trocam bens ou serviços e buscam um acordo sobre as vantagens dessa troca para elas” e está presente em todos os relacionamentos. Uma boa negociação é aquela em que as duas partes saem satisfeitas. Para que ela possa ocorrer, é necessário que as partes tenham as capacidades de saber comunicar, ouvir e perguntar, adotando um estilo que leve à solução do conflito de forma mais pacífica possível.
Para por fim a conflitos é necessário ter uma forte capacidade de negociar, de discutir a natureza do problema e não dos sentimentos envolvidos. Inúmeros fatores podem influenciar o surgimento do conflito, não ficando restritas as questões relacionadas ao trabalho ou à estrutura organizacional. Os mais comuns são as diferenças individuais, os diversos níveis de competência interpessoal, as diferentes visões de mundo, entre outros.
Através de entrevistas feitas a funcionários públicos que trabalham em uma unidade hospitalar e que possuem 34 a 36 anos de serviços prestados, revelaram: “- Em uma determinada gestão, éramos tratados com muita rigidez, sob muita pressão e não tínhamos direito a descanso. Existia muita cobrança, pouca valorização e não era permitido o acesso do funcionário à direção e isso gerava conflitos”. Uma outra funcionária com 19 anos de serviços desabafa: “- Passei por muita pressão no trabalho, inclusive no momento em que mais precisei de reconhecimento e apoio quando retornei de licença médica por uma doença ocupacional comprovada. Fui forçada a exercer a função de digitadora, sofri ameaças de ser transferida para outra unidade e perda da gratificação de extensão da carga horária já incorporada no salário se não aceitasse a função”.
Acredita-se que esses exemplos possam justificar o comportamento de alguns funcionários públicos como servidores, que compreendem a atuação de sua própria categoria como sendo fruto de indivíduos “relapsos, acomodados, desestimulados, ociosos, faltosos, atendem mal, não cumprem horário, deixam o serviço atrasar”. Para Robbins (2005, p338), “a relação entre líder e liderados demonstra o grau de confiança, a credibilidade e o respeito que os membros do grupo têm para com seu chefe”;
Para a coordenadora do setor de Assistência Social de um determinado hospital, 25 anos de serviço público, o problema está direcionado na gestão. “Gestão no serviço público é uma tarefa árdua, pois o gestor público deve ter habilidades que lhe permitam operar dentro de metas com recursos fixados por lei, de estruturas organizacionais rígidas e com funcionários controlados e protegidos pelo sistema jurídico, além da constante pressão política. Para que a organização pública possa cumprir com sucesso sua função social, ela precisa cada vez mais de funcionários qualificados e motivados para bem servir. Sugiro implementação de uma gestão voltada para as pessoas, ou seja, uma gestão humanizada, que tenha como intuito  propor uma mudança do perfil do gestor em substituição ao estilo autocrático para tornar-se um líder e poder captar e desenvolver a capacidade criativa e os talentos que a organização dispõe. Acho que este perfil de liderança é dinâmico e que transforma o gestor em um agente de mudanças via a arte de liderar pessoas, mobilizando energias para qualidade dos serviços públicos. No meu setor, exerço a função de líder democrático, ou seja, aquele que confia e delega responsabilidade, dá liberdade à equipe para ser inovadora. Apresenta o problema e as limitações para que coletivamente, a equipe decida. Aceito conselhos, recomendações e sugestões dos meus colaboradores, programo uma liderança participativa. Os estilos motivacionais são através do incentivo pelo desempenho criando formas de pagamento que não sejam em dinheiro. Desta forma, está claro que a motivação e comprometimento dos funcionários são fatores decisivos para a sobrevivência e sucesso da organização”, diz.
Portanto, a qualidade tem sido considerada como um elemento diferenciador no processo de atendimento das expectativas de clientes e usuários dos serviços de saúde. Toda instituição hospitalar, dada a sua missão essencial em favor do ser humano, deve preocupar-se com a melhoria permanente da qualidade de sua gestão e assistência, de forma que consiga uma integração harmônica das áreas médicas, tecnológica, administrativa, assistencial, etc... se for o caso das de docência e pesquisa. Tudo isso deve ter como principal fundamento de razão a adequada atenção ao paciente. O gestor precisa aplicar ações eficazes para contemplar o processo de favorecimento à eficiência e a eficácia, principalmente no que se refere à organização e a sua administração. Precisa posicionar-se com uma visão inovadora e dinâmica do processo para: efetivar as práticas de respeito, solidariedade e valorização do próprio ser humano; examinar as principais causas que geram um caos no atendimento dentro dos hospitais públicos; promover a integração e a afetividade das relações interpessoais entre funcionários através de treinamentos e palestras; investigar se o processo de humanização dentro dos hospitais públicos acontece de forma solidaria e eficaz; e quais estratégias podem ser adotadas para que haja um atendimento mais humanístico dentro dos órgãos que oferecem saúde pública.
O hospital é, das organizações por gestão, visto como uma das mais complexas que existem devido ao trabalho exclusivamente humano, por isso, deve estar preparado para enfrentar os mais variados desafios. Mas infelizmente, apesar de sua notável importância para a sociedade, muitos hospitais negligenciam a administração em que predominam as reclamações por falta de pessoal, de recursos financeiros, tecnológicos, de profissionais qualificados e humanizados no seu ambiente de trabalho. Enfim, falta uma gestão capaz de encarar os problemas e valorizar a vida humana, pois muito dos problemas vividos nos hospitais públicos tem sua fonte numa gestão inadequada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ROBBINS, Stephen. Fundamentos do Comportamento Organizacional, São Paulo: Ed. 2005.
CHIAVENATO, Idalberto. Gerenciando pessoas. São Paulo: Makron Books,1994, 3ª ed., pp.167-181

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